Olá,
nesta postagem você encontrará:
- uma reflexão sobra a data de hoje, 19 de abril, escrita pela educadora Aline Calahani;
- reflexões ocorridas no último encontro à distância com os voluntários da Vaga Lume e cinco participantes que são indígenas e atuam em contextos indígenas;
- uma lista de escritoras e escritores indígenas para inspiração e aprendizado.
Boa leitura!!!!
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O que é o “dia do índio”?
Por Aline Calahani
Para mim, que nasci e cresci no interior de São Paulo, que estudei em escola pública, que sou branca e passei por muitos dezenoves de abril, o “dia do índio” ainda não tinha o significado que tem para mim hoje. Na verdade eu não gostava. Sentia muito desconforto quando as professoras me pintavam e éramos obrigados a fazer nosso próprio cocar, com uma pena de papel.
Em um desses dias, me lembro bem, foi em 1993, eu tinha 5 anos. Saí da escola com a tinta guache secando no rosto e um papel enrolado no cabelo. Emburrada, cheguei na casa de minha avó que quando me viu, disse alto com ternura e sem culpa: “ah, que linda minha indiazinha”. Confesso que me senti muito ofendida. Eu não sabia o que era índio, quem dirá povos indígenas. Eu era criança em uma sociedade branca-patriarcal que achava aqueles adereços fofos e que as crianças deveriam se pintar em homenagem aos índios.
“Mas, que raios são esses índios?” – questionei desde muito pequena.
Já em 1999, aos 11 anos, na 5ª série do ensino fundamental, tive minha primeira aula de história. O nome da minha professora era Deusa, minha primeira referência de mulher negra, uma pessoa absolutamente incrível. Tão incrível que me lembro dela até hoje, 22 anos depois.
Deusa dava aulas de história do Brasil como se nos transportasse ao local e à época. Eu fechava os olhos e imaginava tudinho, todos os detalhes. Porém, como a maioria dos professores na década de 90, Deusa era obrigada a cumprir o conteúdo do livro didático. E no livro didático constava alguns trechos da invasão europeia no Brasil como se fosse um conto de fadas.
Não era culpa da Deusa, nem da minha família, pois as reflexões mais amplas que temos hoje não eram tão acessíveis há 20 anos, principalmente no interior. Mas, Deusa era didática e, mesmo contando uma história bastante enviesada, me fez entender muito de nosso passado violento e opressor.
Foi então que eu descobri que os “índios” eram PESSOAS.
Nunca ninguém havia se preocupado em me dizer que os índios eram pessoas que estavam aqui antes de uma invasão e que não são todos iguais, pois possuem etnias, línguas, culturas e territórios diferentes. Eu realmente achava que eram figuras mitológicas, pois nos livros didáticos da década de 90 eles apareciam sempre ao lado da Iara, do Curupira e da Cuca. A professora de história, Deusa, foi a primeira pessoa que me revelou outro ponto de vista, mais próximo da verdade: “sim, Aline, são pessoas e muitos deles existem” (e resistem).
Desde então um paradigma se abriu. No entanto, eu achava que ser próxima a algum indígena era algo bem distante da minha realidade.
Hoje, aos 32 anos de idade, trabalhando como educadora da Vaga Lume e conseguindo acessar vários povos indígenas, suas literaturas, histórias, territórios e cultura, não só os conheço, como tenho muitas amizades. Com a troca de saberes e generosidade de mão dupla, sigo aprendendo dia a dia.
Passei por um longo processo de culpa. De culpar minhas origens, minha criação, minha cor, meus privilégios e minha ignorância. Também aprendi que essas culpas não me levaram a lugar nenhum, mas elas me impulsionaram a reconhecer minha responsabilidade, a escuta, o respeito e a LUTA. Afinal, reconhecer o passado é uma grande chave para a reelaboração do futuro.
Aos povos indígenas, respeito e reverencio o chão por onde passam. Todo o Brasil é terra indígena. Toda luta indígena é minha luta também. Dia 19 de abril, popularmente conhecido como “dia do índio” é um dia de luta! Vale destacar que alguns indígenas já sinalizaram a importância de mudar a nomenclatura para “Dia dos Povos Indígenas”, respeitando as particularidades de cada povo.
Que possamos seguir no sentido da equanimidade, já que hoje muitas Deusas e gerações atuais têm mais recursos para tecer novos conhecimentos sobre os povos indígenas para que possam olhar para o passado – mas também o presente – aprender e evoluir, sem nenhum direito a menos.
Que a ignorância deixe de ser disseminada pela história opressora. Obrigada, Deusa; obrigada, amigos indígenas. Seguimos!
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A Vaga Lume promoveu no dia 14 de abril, uma conversa sobre o “dia do índio”, à distância (via aplicativo zoom).
Estavam presentes 15 voluntários de 7 Estados da Amazônia: RR, AM, AC, PA, MT, MA e AP. Também a equipe técnica da Vaga Lume de São Paulo e Belém.
Cinco voluntários, que são indígenas, foram convidados para trazer ao grupo suas reflexões.
Abaixo segue alguns trechos extraídos das falas desses grandes seres que, com muita sabedoria, enriqueceram a troca de conhecimentos entre os participantes.
Lista de 20 escritoras e escritores indígenas para estudar, se inspirar e seguir aprendendo:
- Ailton Krenak
- Aline Pachamama
- Arariby Jassanã
- Auritha Tabajara
- Cristino Wapichana
- Daniel Munduruku
- Denízia Kawany Fulkaxo
- Eliane Potiguara
- Elias Yaguakãg
- Graça Graúna
- Julie Dorrico
- Kanatyo Pataxó
- Lia Minápoty
- Lidia Krexu Rete Veríssimo
- Márcia Mura
- Márcia Wayna Kambeba
- Olívio Jekupé
- Tiago Hakiy
- Vãngri Kaingang
- Yaguarê Yamã
Revisão: Márcia Licá e Danila Guedes