Márcia Kambeba, poeta, geógrafa, estudante, educadora e militante, faz parte de uma rede que por meio da cultura, da educação decolonial e do ativismo político segue defendendo os povos indígenas, a natureza e seus direitos. A autora dissemina e produz a literatura indígena como um ato de resistência e de afirmação destes povos, tantas vezes esquecidos nas abordagens escolares.
Poder aprender com ela no último encontro com os voluntários à distância e aprender com as educadoras e educadores que fazem parte da rede da Vaga Lume tem sido um enorme privilégio. Em uma sociedade punitivista e fechada para o diálogo, me aproximar de quem defende educação e a cultura do afeto e das trocas tem me dado esperança de que estamos trilhando caminhos alternativos.
Ouvir a Márcia também me fez lembrar das educadoras que fazem parte da minha vida, seja na memória ou no convívio. Sou de uma família de professoras, e, ao que me parece, tive o privilégio de estar sempre próxima de mulheres educadoras que acreditam no carinho e no abraço como forma de educar, de acolher e ouvir. Sigo na expectativa de que estas experiências não sejam exclusivas de alguns, e sim uma realidade das crianças e jovens brasileiros.
Por fim, deixo como recomendação para os leitores vaga-lúmicos o poema da autora que lemos no início do encontro para que sigamos aprendendo com a natureza e os povos indígenas.
Os filhos das águas do Solimões
A água é a mãe que sustenta
A vida que nasce como flor
Alimenta a planta e o ser vivente
É estrada onde anda o pescador.
Na enchente, vem veloz e furiosa
Derrubando ribanceiras e plantações
Afeta a vida do indígena e ribeirinho
É um ciclo, que se renova a cada estação.
Na vazante o rio quase some
E a praia começa a surgir
A água, agora bem calminha
Não tem forças para a roça destruir.
Nas margens de um rio em formação
Vive um povo que a água fez nascer
Em um parto de dor e emoção
Na várzea o Kambeba escolheu viver.
Mas em um contato fatal
Com um povo mais socializado
Fez dos herdeiros das águas
Um povo desaldeado.
Tomando seu solo sagrado
Sem dor, piedade ou compaixão
Os Kambebas foram escravizados
Apresentados a “civilização”
Exploraram a sua força
Forjando uma falsa proteção.
Redação: Elisa Villaméa
Revisão: Márcia Licá